7 de fevereiro de 2007

 

O calendário do MCTES

A discussão sobre o "eduquês" provoca-me logo uma atitude de defesa. É muitas vezes demasiadamente apaixonada e não circunscrita ao que deve ser. Por exemplo, todas as consequências práticas do construtivismo são dependentes do nível etário. Não posso discutir a aquisição de competências na educação superior, segundo o paradigma de Bolonha, com que concordo inteiramente, extravasando a situação de adultos jovens para a situação das crianças, de cuja pedagogia não sei nada. Já escrevi sobre isto, com maior aprofundamento.

Há pouco tempo, manifestei o meu espanto em relação à proposta de professores do 2º ciclo do básico poderem ser polivalentes. No Público de 31.1.2007, Guilherme Valente aborda o mesmo problema, com a minha concordância. Mas aproveito o seu artigo para uma citação importante.

"Mas julgo vislumbrar a mudança no horizonte. Este actual estádio supremo do eduquês deverá ser também o seu estertor. E julgo ter boas razões para pensar que a mudança vai acontecer com José Sócrates. Não é possível adiar mais e ele percebe onde está a essência do problema e acredito, e apoio, a sua atitude reformadora. Enganou-se com a ministra, mas estará a verificar o engano e irá corrigi-lo. Os próximos resultados vão ser piores e o chefe do Governo sabe que não haverá desenvolvimento nem diminuição das desigualdades sem outra escola, sem um ensino que desafie alunos e professores, que qualifique e forme, que realize as diferentes potencialidades de todos."

Pelos vistos, Guilherme Valente tem mais acesso aos segredos dos deuses do governo do que eu. José Sócrates vai impor-se? Sou mais descrente. Parece-me que o tempo de intervenção de Sócrates sobre os ministros se está a esgotar e que ele, com a maestria política que se lhe deve reconhecer, vai passar a jogar só pela positiva, por quem lhe dê vazas. O tempo é curto, como explicarei adiante.

Mas o que é que isto tem a ver com a educação superior? Porque tudo isto se aplica, talvez ainda mais, ao MCTES. José Sócrates vai impor-se? Duvido, porque o calendário não ajuda. De facto, o MCTES só dispõe de 4 meses. Parece-me que, a partir de Julho e até às eleições, a regra vai ser "não façam ondas", mas também a de não fazer nada para desacreditar ministros, por ineptos que sejam. A partir de Julho é a presidência portuguesa da UE e será sem dúvida o tempo absoluto de Sócrates, como afirmação pessoal a nível internacional, talvez pensando no futuro. Depois, 2008 é só para preparar as eleições, sem crises nem grandes discussões políticas. Tenho o palpite de que o MCTES no fim de 2008, em vésperas de eleições, será exactamente o MCTES deste Fevereiro de 2007, igual ao de Fevereiro de 2006.

Por isto, só antecipo duas leis, a agora apresentada da avaliação, relativamente pacífica e a da autonomia, longe de ser pacífica mas em que o governo não pode recuar, porque já há muito deu entrada um projecto de lei do PSD. Curiosamente, não se tem ouvido falar dele. Que negociações terá havido para o PSD o manter em lume brando, apesar de ser sempre, para o governo, uma espada de Damocles?

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