9 de novembro de 2006
Disparate meu?
Uma coisa de que os meus leitores não se apercebem, porque não posso publicitar, é a minha actividade de consultor, cada vez mais absorvente. Propostas de cursos, avaliação, consultorias diversas, enchem-me de prazer, não tanto pelos proventos mas por ver as instituições abertas a uma contribuição profissionalizada do exterior. O último caso foi a elaboração de uma proposta para um novo curso de medicina. Obviamente, não a posso divulgar, mas creio que não há problema em transcrever uma pequena passagem, que diz respeito ao acesso.
AcessoProvoco os leitores com uma pergunta: porquê a matemática como disciplina classificativa para acesso a um curso de medicina?
Não é obrigatório, legalmente, incluir as condições de acesso na proposta de um curso. Neste caso, pensamos que é significativo e que ilustra a filosofia deste projecto. É de esperar que, dada a impossibilidade de ingresso em cursos de medicina por muitos alunos, este curso tenha procura excessiva em relação à oferta de vagas. Assim, o sucesso do projecto depende muito de uma criteriosa escolha dos candidatos. O sucesso da aprendizagem depende, em partes talvez iguais, da qualidade dos professores e dos estudantes.
É opinião largamente partilhada que o aceso aos cursos de medicina está viciado e é contra-natura. Acedem os alunos com altas classificações, acima de 18 valores. Paradoxalmente, em muitos casos, isto é contraditório com o espírito médico. Muitas vezes, são estudantes treinados numa mentalidade egoísta e de alta competitividade, com pouco sentido da cooperação, da entreajuda de colegas amigos. O médico tem de ser solidário, cooperante com os colegas e, acima de tudo, deve ter uma atitude de grande empatia com o sofrimento dos outros. São os próprios médicos de gerações mais velhas que se queixam da arrogância e frieza de muitos actuais jovens médicos.
Nestes termos, a seriação dos candidatos será feita por ponderação igual de dois componentes: a classificação do ensino secundário e o resultado de uma entrevista.
a) classificação do ensino secundário (50%):
i. classificação final do ensino secundário (10º-12º ano): 15%;
ii. classificação nas provas específicas do 12º ano: Biologia, 20%; Química ou Matemática, 15 %.
b) classificação da entrevista (50%):
É praticamente impossível determinar por entrevista a "vocação" para a medicina. No entanto, ela é facilmente detectável por via indirecta, abordando aspectos gerais da cultura, atitudes e motivações que se reflectem no espírito médico: a atitude perante a solidariedade e a relação com os outros; a apetência cultural; a articulação do pensamento e do discurso; a atitude perante os grandes problemas mundiais, a fome, a exclusão, a doença, a expropriação dos recursos; a atitude em relação ao multiculturalismo, à integração social dos imigrantes, às minorias; e muito mais.
Obviamente, também a dissecção exigente da resposta a uma pergunta essencial: "porque quer ser médico?"
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