25 de outubro de 2006

 

Duas entrevistas a não perder

Muito recentemente, Marques dos Santos, reitor da U. Porto deu duas entrevistas muito interessantes, ao boletim dos antigos alunos (UPorto, Set. 2006) e ao jornal da academia (UUP, Outubro 2006). É impossível referir-me neste espaço a todo o conteúdo e vou limitar-me ao que diz sobre a governação, mas talvez ainda reproduza as suas afirmações sobre o CRUP e a nivelação por baixo, bem saborosas e, que para quem me leu, imagina-se como as recebi. É o segundo reitor que conheço, dos actuais, com a opinião que exprime sobre o nosso sistema de governação universitária. O problema é que ainda faltam doze.
"P - A U. Porto está a preparar uma proposta legislativa de revisão do modelo de gestão. Em que consiste?

R - A preparação do documento começou ainda na vigência da equipa reitoral anterior. Resta burilar essa proposta, discuti-la, e entregá-la ao Ministério. Julgo que a tutela está convencida da necessidade de revisão desse modelo, que, no essencial, está em vigor deste o final da década de 70.

Qualquer modelo de gestão terá de ser claro na atribuição de confiança a quem gere, na avaliação e na responsabilização. Quem gere tem de ter condições e autonomia para exercer a sua actividade, devendo ser avaliado por quem de direito, através da verificação do cumprimento dos objectivos traçados e, na sequência disso, reconhecido ou responsabilizado pelos resultados alcançados. Se houver responsabilização pelo cumprimento dos objectivos e se p salário e a manutenção da função for dependente desse cumprimento, dificilmente haverá lugar ao compadrio! Nessas condições, só um tolo contrataria profissionais medíocres que iriam concorrer para o mau resultado da sua actividade!

A proposta que estamos a preparar mantém o Reitor e a Equipa Reitoral e prevê um Conselho Geral onde têm assento pessoas de mérito intelectual ou científico inquestionáveis, conceituadas publicamente. Esse Conselho elegeria o Reitor, segundo modelos ainda a definir. É uma proposta ainda a afinar e a discutir. Entendo que quem gere não pode ser eleito por quem é gerido, porque quem gere pode ser obrigado a tomar decisões que podem contrariar os interesses de quem é gerido. É, portanto, errado gerir em subordinação aos interesses dos geridos. Por outro lado, se quem é gerido escolher os gestores, a tendência é para a escolha de um gestor que agrade sempre. Nas empresas, aliás, por norma, não se pode ser simultaneamente funcionário e membro do Conselho de Administração. A este nível, os princípios de gestão nos dois meios, no ensino superior e nas empresas, devem ser comuns.

Em Portugal, considero que as falhas maiores estão na organização, na gestão e na exigência - no bom sentido, porque a sociedade tem direito a exigir bons resultados do investimento dos seus impostos. Sei que estas afirmações são polémicas, mas foi este o discurso que sempre tive e pelo qual fui eleito Reitor."
A última frase faz-me pensar. Que um reitor exprima posições destas é invulgar mas até se pode considerar já hoje, mesmo entre nós, como esperável de quem certamente tem reflectido muito sobre a universidade. Mas, como diz o reitor, foi eleito com conhecimento público desta sua opinião (aliás partilhada pelo outro concorrente). Isto é que, para mim, é surpreendentemente muito agradável. Sou, por natureza, um optimista até romântico. Estarei a sonhar ao pensar que alguma coisa está a mudar na universidade?

P. S., 18:26 - Veio-me só agora à ideia uma questão relacionada com a liderança. Um dos poderes discricionários dos reitores é o da escolha da equipa reitoral, vice-reitores e pro-reitores. Com que critérios os escolhem? Competência? Ou que peso têm as considerações menores de equilíbrio corporativo entre escolas ou entre correntes de opinião no senado? E, já que escrevi sobre a U. Porto, porque é que no seu sítio da net não figuram em destaque os currículos de todos os membros da equipa reitoral?

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